20030630

2434 Que as ruas de meu corpo são de ouro e minha cama de cristal

E eu já não vi mais você.
Meus olhos foram
Sonda submarina,
Satélite astronômico,
Radar de delírios.

Eu procurei você nas árvores,
As paredes emplastradas,
As nuvens migratórias
Que viajam por cima de minha cabeça,
E eu já não vi mais você.

Neste lúgubre interior meu
Não haverá nenhuma vida
Para deixar escapar ao ar,
Porque meus pulmões
Só dão para aspirar os corações
Que você transpira.

Debaixo de minha língua
Eu tenho um castelo secreto e escondido,
É feito das mesmas fundações
Com que está feita
A Nova Jerusalém.

Venha com sua chave mágica
E com seu mapa de tesouros
E cutuque nos labirintos
Insondáveis de minha boca,
Passe minhas portas de pérolas,
E minhas paredes de ametista,
Se quiser você pode furar
Minhas paredes de jaspe e de safira,
Derribe meus muros de ágata,
Esmeraldas, ônix e cornalina,
Abata minhas paredes de crisólito,
E lance se você quer, de um sopro só
Minhas muralhas de berilo,
Destrua minhas barreiras de topázio
E lance abaixo minhas taipas
De crisoprasa e jacinto,
Que as ruas de meu corpo
São de ouro
E minha cama de cristal.

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