20240309

5585 Para eu me entregar ao festim

Oh! Na vida, avancei 
Com a dignidade inabalável 
Da Rainha Vasti 
Quando ela se recusou a cruzar 
O majestoso limiar 
Do Rei Assuero.
Algo me dizia que, 
Em seu encontro, 
Meu eu interior 
Se deixaria intimidar.

Minha frente, orgulhosamente erguida, 
Não permitiria que meus olhos 
Se desviassem. 
Sem parar, segui em frente, 
Sem olhar para trás, 
Com o impulso do medo 
De me tornar 
Uma estátua de pedra e sal, 
Como se eu fosse 
A esposa de Ló.

Mas numa das voltas 
Imprecisas da sua vontade, 
Você circunvagou minhas margens, 
Explorou meus átomos, 
Aproximou-se, inflamável, 
Ao meu fogo interior.

Então seu ser se emaranhou com o meu, 
Forçando minha abstinência de amor.

Com seu sorriso doce e sincero, 
Você quebrou a cadência constante 
De meus passos em direção à aflição, 
Me fez cruzar o limiar 
Onde desviou minha rota direta 
Para a desassossegante dor.

Uma magia deslumbrante 
Explodiu dentro de mim, 
Senti-me como um vulcão trepidante. 

Experimentei o rugido do Vesúvio, 
Do Mauna Loa, 
Do Krakatoa, 
Do Popocatépetl.

Desde então foi apagada, 
Minha angústia gerada 
Pela solidão 
E o que desejo é 
Que o nervo da minha perna 
Se estenda 
E meus pulmões não se cansem 
Ao galopar, 
Para eu me entregar ao festim 
Do seu corpo 
Pelo resto dos dias 
Que me esperam para respirar.

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