20240201

5410 Uma bigue-bangue de gemidos

Quando o pastor que reside 
Na cabana solitária do meu peito 
Adormeceu-se, 
Esboçou-se no seu sorriso feroz 
A malícia de devorar 
As minhas ovelhas.

Como se fossem manjares destinadas 
A satisfazer o seu apetite voraz.

Camada por camada e floco por floco, 
Como nuvenzinhas espalhadas 
Pelo vento tempestuoso, 
Você arrancou de mim 
Todo vestígio de felicidade.

Seus desejos aguçados 
Pastaram impiedosamente, 
Deixando meus rebanhos indefesos.

Vulnerável aos caprichos 
Da sua vontade, 
Minhas ternas sensibilidades,
Delicadas,
Dançavam despreocupadas, 
Sem prever a tempestade 
Que se formava em seu olhar.

O grau de instabilidade 
A que você empurrou meu coração 
Me deixou à mercê 
Do turbilhão que você desencadeou.

Fui uma testemunha indefesa 
Enquanto sua boca insaciável 
Arrancava pedaços 
Da minha esperança.

Animal selvagem sem piedade 
Satisfazendo sua fome.

Cada mordida sua gerou 
Uma bigue-bangue de gemidos.

Uma gênese de gritos.

Um amanhecer cósmico de pôr do sol.

Suas sementes germinantes de dor 
Foram espalhadas.

No hay comentarios.: