19920930

0824 Uma nova palavra

Hoja não almoçarei
Mais não porque a fome
Não atormente meus sensos
Senão por ter nascido
Num lugar e numa época
A qual eu não elegi
Mais não sinto angustia
O que sinto é um vazio
No meu estómago e cabeça
Que me faz flotar
Quasi ingrávido pelo ar
Como se estivesse no limbo
Eu não sou culpável
De ter o ventre hinchado
Nem sou culpável também
De que meus ossos asomem-se
Como un cartaz fatidico
Da desgraça que abruma-me
E que me deixa sem força
Para tentar escapar
Desta lenta agonia
Às vezes fecho meus olhos
E trago em seco
Tentando transmutar-me
Para ver se posso viver
Embora seja um tempo mais
Porque a pesar de ter
Somente oito anos
Parece como se tivesse quatro
Recentemente aprendi
Uma nova palavra: desnutrido
Que segundo falaram-me
Na África e no meio oriente
Há pessoas como eu
Que padecem ao mesmo tempo
A provissão fresca que nos deixa
O monstro da desnutrição.

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